Advogado, Arruda é Filho dos saudosos Luiz Paula e
Terezinha de Jesus Paula.
“ Minha primeira equipe foi o Mangueira Futebol Clube. Meu
primeiro treinador, o saudoso Sr. Osmar, ex-funcionário do Clube. Ele era tipo
aquela pessoa que é chamada de “pau pra toda obra”, pois, laborava como
porteiro do clube na sede social, cuidava da piscina, marcava o campo, que na
ocasião era onde hoje funciona o Parque de Exposições, cuidava do uniforme do
time, massagista... Quando algum atleta contundia-se durante a partida, lá
estava o Sr. Osmar com uma maleta pequena de madeira, pintada de branco, com
uma cruz vermelha, dando aquela assistência ao atleta.
Daí a poucos minutos, o
jogador estava prontinho pra outra. Ele treinava o time infantil do Mangueira,
a primeira categoria que comecei no futebol. Era, sem sombra de dúvidas, um
abnegado pelo futebol e pelo Mangueira, sua paixão. Era respeitado por todos.
Figura marcante. Tipo da pessoa que faz falta. Deixou saudades.
Eu comecei
jogando de lateral direito, mas também joguei de zagueiro, lateral esquerdo e
depois fui parar no meio de campo, mais precisamente à frente dos zagueiros,
dando cobertura a zaga inteira.”
Depois da homenagem póstuma ao Lalúcio, gostaria de falar sobre o União. Fui
campeão também pelo União Esporte Clube de Roça Grande. Fui convidado pelo Sr.
Alzimar, técnico do União, para assistir a partida de estréia do União, que era
contra o Tupi em
Roça Grande. Para os jovens a menos tempo do que eu, o Sr.
Alzimar, a título de informação, foi um grande técnico de futebol, dirigiu,
inclusive o Madureira Futebol Clube, da cidade do Rio de Janeiro, onde,
juntamente com seu genitor, conhecido como Bossa Nova, prestaram relevantes
serviços aquela instituição futebolística. Na sala de exposição dos feitos
conquistados pelo Madureira, presente está o retrato de seus principais vultos,
entre eles o Sr. Alzimar e seu pai. Continuando, aceitei o convite e fui
assistir ao jogo. O primeiro tempo terminou com a vitória parcial do Tupi pelo
placar de 2 x 0.
O União tinha um time de respeito, cuja escalação lembro-me
bem: Luiz Quirino de Freitas, Aloísio Caetano, Messias, Evandro e Leoci Fan;
Laluce, Delei e Duda; Carlinho Babado, Adão e Nenzinho Tereza. No intervalo, o
Sr. Alzimar pediu-me que eu colaborasse com ele e mudasse a roupa para jogar.
Você pode achar estranho, jogar assim de repente. É que o campeonato era aberto
e as inscrições podiam ser feitas até na 3ª rodada, era a primeira, eu assinei
a ficha na hora do jogo, ou seja, durante o intervalo, logo após o convite, e
tudo bem. O Sr. Alzimar era uma pessoa
muito educada, gentil, cortês e acima de tudo convincente, transmitia uma
senhora confiança. Pego de surpresa, eu não me contive, pois, além dele, todos
os outros jogadores do União, que eram meus colegas de futebol, também
insistiram pra que eu mudasse a roupa e entrasse. Não tinha como dizer não. Eu
entrei, e logo senti o peso da responsabilidade. Tinha apenas 16 pra 17 anos de
idade, considerado uma promessa. Naquele momento senti que eu tinha que
justificar a minha entrada em
campo. Então me esforcei o máximo que pude, dei sorte,
empatamos o jogo 2 x 2, fiz um dos gols e dei o passe para o outro.
Fui
considerado o melhor jogador em campo. O Laluce e o seu irmão Nenzinho então
resolveram reforçar o time, ficaram empolgados e trouxeram o Loro, já no final
de carreira, como jogava bola; o Tista, o Tumbuta, que jogou apenas uma ou duas
partida e depois foi trabalhar na Plataforma Marítima, para quem não sabe, era
um dos melhores soldadores da Tekinte, empreiteira da Petrobrás; o Rominho, da
vizinha cidade de Bicas, excelente zagueiro que fez dupla de zaga com o
Messias; o Fernando, um ótimo centroavante de Cataguases, pra ele não tinha
bola perdida e o Getúlio, também de Bicas, centroavante goleador do Leopoldina
de Bicas. O plantel ficou recheado de jogadores, as opções eram muitas, o que
resultou num senhor time de futebol. O campeonato tinha duas chaves. Fomos
campeões invictos da nossa chave e o Descoberto da outra chave.
A partida final
foi no campo do Botafogo e nós fomos campeões. Ganhamos o jogo de 1 x 0, gol do
Tista, depois de uma cobrança de falta do Messias, o goleiro tentou pegar a
bola em um só tempo, mas não conseguiu, o chute foi forte, como sempre, a bola
explodiu em seu peito e veio em direção ao Tista, com um pouco de velocidade. A
bola passou pelo Tista que tinha um ótimo reflexo e mesmo de costas para a
bola, usou o calcanhar e trouxe de volta a bola em direção ao fundo da rede.
Foi um golaço. Uma explosão de fogos, gritos, batucada e tudo mais que se possa
imaginar de uma torcida que praticamente era toda nossa. Foi muita emoção por
parte de todos. Isso, mais ou menos aos 20 minutos do primeiro tempo.
No
segundo tempo o Descoberto partiu pra cima, era tudo ou nada. Nós levamos um
sufoco, eu não gosto nem de lembrar. Quando o jogo terminou, eu não tinha
pernas para caminhar. Tive que ser levado nos ombros do José Adário, nosso
massagista, uma fortaleza. Esse título foi o mais importante, considero ter
sido a chave que abriu as portas para eu jogar nos outros times pelos quais
passei, sempre como titular da posição em todos eles.”
Sr. Alzimar,
Arruda, Tm, Leoci, Ervandro, Messia, Nenzinho e Quirino no detalhe.
Agachados: Carlinhos Babado, Nenzinho Tereza,
Duda, Tista, Delei, Getúlio e lalúcio.
Um fato
engraçado no futebol.
"Havia aqui em São João um time que fora
formado pelo Nico Barbeiro, Alegria, se não me falha a memória o Valdir Gomes e
outros mais. A esse time foi dado o nome de Estrela Vermelha. Nele atuavam os
melhores jogadores da cidade, aqueles que jogavam no Mangueira, Botafogo e no
Operário. Sempre quando esses times estavam desativados, à espera de outro
campeonato, o Estrela Vermelha a parecia com aquele timaço e ganhava de todo
mundo.
O time ficou famoso, todos os times da região o convidavam pra jogar. Os
dirigentes do Estrela Vermelha atendiam ao convite de todos. Certa feita, o
Estrela foi convidado para jogar com o time do Lima Géo, uma fazenda antiga que
fica entre São João e Rio Novo. O proprietário da fazenda gostava muito de
futebol e sempre quando o time dele ganhava algumas partidas ele achava que o
time estava bom a ponto de enfrentar um time sempre melhor que o dele e vencer,
daí convidava um time bom, como era o do Estrela Vermelha. Convite aceito.
O
Estrela, naquela época, tinha como treinador o Sr. Rosemburgo. Uma pessoa
belíssima amava conversar sobre tudo, principalmente futebol. Estudioso no
assunto, inteligente, armava táticas, conselheiro, homem bondoso, correto, um
excepcional ourives. Sua oficina era o ponto de encontro dos boleiros da
cidade. Conseguir um lugar pra ficar em sua oficina era difícil, tinha que
chegar cedo. Rolava uma conversa saudável, prendia a atenção de qualquer
pessoa. Era como se você estivesse lendo um bom livro e cada vez mais ele te
segurava. O nosso amigo Sebastião Bode, exímio mestre cuca, era o lateral
esquerdo do time. Por razões desconhecidas, após a preleção, Rosemburgo deu
início à escalação do time e para surpresa de todos ele escalou apenas 10
jogadores, não citando o nome do Sebastião Bode. Todos ficaram surpresos com a
sua postura, então ele disse. “o esquema hoje é com 10 jogadores, apenas”,
deixando assim o Sebastião Bode de fora.
Não demorou nada e o tempo fechou
antes do início da partida. Aí foi preciso a participação da turma do deixa
disso. Eu confesso que nunca mais vi uma coisa dessas. Foi mesmo muito
engraçado. Mas tudo terminou bem e o Sebastião Bode acabou jogando. O
Rosemburgo, em matéria de futebol, às vezes era perfeccionista, além de gostar
dar uma de inventor. Mas a verdade é que ele sabia tudo de futebol. Dirigiu
várias equipes. Era, acima de tudo, um homem admirado e respeitado por todos.
Também faz muita falta."
Nico”barbeiro”,
Titino, Valdir Gomes, Lucinho, Cabrita, João”preto” e Ronaldo Agripino.
Agachados:
Murilo, Messias, Eustáquio, Adilson”brinquinho” e Paulinho Pimentel.
Obrigado ao amigo Arruda por esta entrevista rica
em detalhes.
Abraço a todos e até a próxima se Deus quiser!
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