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segunda-feira, 12 de julho de 2010

ARMANDO NOGUEIRA



Hoje entendo meu amor pelo Botafogo de Futebol e Regatas.

Abaixo, texto retirado da Revista Oficial do Botafogo – Ano 1 nº 1 2010


“Afinidades eletivas, meus amigos. Coisas do coração. Mistérios da alma. Premunição, talvez, pois, no final do jogo, o Botafogo daria a volta olímpica saudando a sua torcida. Tinha goleado o Flamengo, ganhando de cinco a dois. HELENO marcara dois belos gols, um deles de cabeça. UMA TESTADA BÍBLICA!

Nascia, ali, uma simpatia de mão única, pois o Botafogo nem sabia da minha reles existência. Não sabia, nem precisa saber. O futebol é assim: desperta na pessoa um sentimento virtuoso que transcende a amizade, que vai além do amor e culmina no santo desvario da paixão. Tem de tudo um pouco, porém, é mais que tudo. Torcer por uma camisa é plena entrega. É mais que ser mãe, porque não desdobra fibra por fibra do coração. Destroça-o de uma vez no desespero de uma derrota. Em compensação, remoça-o no delírio de uma vitória.

O Botafogo tem de tudo a ver comigo: por fora, é claro-escuro, por dentro, é resplendor; o Botafogo é supersticioso, eu também sou.

O Botafogo é bem mais que um clube – é uma predestinação celestial. Seu símbolo é uma entidade divina. Feliz da criatura que tem por guia e emblema uma estrela. Por isso é que o Botafogo está sempre no caminho certo. O caminho da luz. Feliz do clube que tem por escudo uma invenção de Deus.

ESTRELA SOLITÁRIA.

O Botafogo sempre oscilou entre HELENO DE FREITAS e Garrincha: pássaro de fogo, pássaro de luz; um era a glória e tormento, o outro, humor e encantamento. HELENO era impiedoso como a ironia, que fere; Garrincha era límpido e generoso, como o riso, que conforta. Entre os dois jogadores, cujos tempos míticos se somam, e se eternizam, nasceria também para a perpetuidade alvinegra, um craque magistral.

Um dia, consumido de saudades botafoguenses, escrevi um breve poema sobre Nilton Santos. Quanta majestade no trato de uma bola! O moço jamais fez um truque com a bola. Só fazia arte. Nilton não era um jogador de futebol, era uma exclamação. Tu em campo parecias tantos / E, no entanto – que encanto -, eras um só: Nilton Santos.

O torcedor do Botafogo tem um coração repleto de memoráveis cintilações: convivem, na mesma estrela, dribles insondáveis de Garrincha, passes impressionantes de Didi, antevisões de Nilton Santos, cismas de Carlito Rocha e gols, muitos gols, de HELENO DE FREITAS, cada um mais épico que o outro.

O Botafogo sou eu mesmo, sim senhor!”

Crônica publicada no livro “A Ginga e o Jogo – Todas as emoções das melhores crônicas de Armando Nogueira”, Editora Objetiva.


Abraço a todos e até a próxima.

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